Não queria que este tópico fosse prioritariamente acerca da profissionalização mas como foi o assunto mais debatido cá vai a minha opinião. Inicialmente também considerava a profissionalização essencial, o pressuposto que serve de base à ideia é correcto: única actividade, maior dedicação. No entanto, após tomar conhecimento de quanto um árbitro recebe por apitar um jogo mudei radicalmente de opinião. Com o dinheiro que actualmente um árbitro faz por mês podia perfeitamente dedicar-se em exclusivo à arbitragem e mesmo assim fazer uma vida cheia de comodidades.
Na época de 2007/2008 os árbitros portugueses auferiram apenas em prémios de jogo (os prémios não costumam ser só para quem os merece?) uma média anual de 17500€. Ora, se dividirmos este valor por 14 meses (12 meses + 2 subsídios de férias) dá o valor de 1250€ por mês. Parece-me perfeitamente razoável para quem não tem qualquer tipo de formação específica para a profissão que desempenha (mal).
Na tabela seguinte constam os 20 árbitros que mais dinheiro receberam apenas nos primeiros 5 meses da temporada passada:
"Acrescem a estes valores os subsídios de perda salarial em dia de trabalho (80€), o subsídio de refeição (21€), o subsídio de treino (300€) e os km das deslocações (0.38€ o Km). Estes subsídios acrescentam aos valores da tabela pelo menos mais 2.000€ a cada árbitro nos mesmos 5 meses. A LPFP tem um orçamento anual para arbitragem de 3 milhões de Euros, nos quais também estão incluídas as ajudas de custo no valor de 65€ a cada um dos “93 Observadores” de árbitros, das 1ª e 2ª categorias."
Meus amigos, com estes valores só não se dedica em exclusivo à arbitragem quem é um puro mamão e se está a borrifar para conhecer as regras. E isso não se vai resolver com a profissionalização mas apenas metendo no futebol gente que não lá esteja apenas para mamar uns valentes €. Com árbitros profissionais vamos-lhes pagar quanto? 10000€ por mês?
Acho que para melhorar a arbitragem portuguesa devia começar-se, primeiro que tudo, por incentivar os jovens a iniciarem-se na prática. Não conheço UMA campanha deste género que tenha sido feita. Já escolas de futebol não falta é publicidade. Acho que não há qualquer esforço para chamar os jovens para a arbitragem. Isso é mau porque contribui para que seja sempre a mesma cambada de abutres a lá estar: já vimos que esta rodada não percebe nada de arbitragem, a próxima não poderá ser pior que esta. Em segundo lugar, são necessárias mais formações, intensivas, junto dos árbitros. Como disse o One82, é preciso que os árbitros aprendam as leis de jogo. Em certos casos vê-se mesmo que não as conhecem! Estas acções devem ser intensas, não importa que tomem muito tempo aos árbitros, eles são bem pagos, têm que merecer o que ganham! Se não quiserem que se dediquem em exclusivo à sua actividade profissional. Por último, é indispensável uma maior transparência relativamente aos observadores: em que se baseiam as classificações atribuídas? Mantêm sempre os mesmos critérios? Não parece. Sugeria que a cada classificação atribuída por um observador fosse anexa uma nota explicativa da avaliação, tornada pública.
Não acho que a profissionalização seja a solução. Os árbitros têm todas as condições para fazerem um bom trabalho. Não o fazem por desleixo e porque não são coagidos a tal. Fazem um mau trabalho e vivem com o rei na barriga.
Novas tecnologias? Claro que sim. Mas não justifica o mau trabalho. A sua discussão fica para outro tópico.
Quanto a Vitor Pereira. Está muito pouco melhor do que anteriormente. Combinou algumas raras boas medidas com muita parvalheira que o descredibilizou imensamente.
P.S.: tabela + excerto retirados de
http://www.futebolfinance.com/salarios-dos-arbitros-portugueses-0809